terça-feira, 28 de julho de 2009

ESTUDANDO O LIVRO DE ATOS

IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL.
CURSO DE INTRODUÇÃO À BÍBLIA.





A IGREJA NA NOVA ADMINISTRAÇÃO PACTUAL.
João Ricardo Ferreira de França*
Texto: Atos 1.1-26.
Introdução:
O Livro de Atos dos Apóstolos tem sido deveras negligenciado pela Igreja de nossos dias. Essa negligência se dar por causa do desconhecimento fundamental e basilar do seu conteúdo histórico e teológico. É nosso dever resgatarmos este livro em nossa Igreja. A obra bíblica digna-se ser a continuação de uma obra anterior, pois, o seu autor começa dizendo que já havia escrito o “primeiro tratado” (v.1). Isto nos leva para algumas considerações introdutórias ao nosso curso:
1. O Nome do Livro: É curioso que o texto sagrado seja chamado de Atos dos Apóstolos. Alguns homens tem suscitado que o tema do livro deveria ser “Atos do Espírito Santo”, outros tem sugerido que deveria chamar-se “Atos Missionários da Igreja”. Surge-nos uma questão: O livro é peneumatocêntrico? Ou livro é missiológico? Seguiremos a posição de que o nome do livro poderia ser dado como “Atos de Cristo por meio dos Apóstolos”, pois, o seu autor diz que este segundo volume de sua obra foi escrito para narra o que “Jesus começou a fazer e a ensinar”. Quanto ao nome que tradicionalmente seguimos não temos objeção, pois, “Atos dos Apóstolos” dignificam a ação do Espírito de Cristo sobre a vida apostólica: na comunhão, na evangelização, e na vida eclesiástica conforme narrada no livro.
2. Autoria do Livro: O autor de Atos é “também o autor do Evangelho de Lucas; ele mesmo diz no prólogo de Atos. A primitiva tradição Cristã atribui a Lucas a autoria de Atos”.[1] O que atesta a favor dessa posição é o fato de que o escritor deste livro bíblico conhece “o Antigo Testamento na versão grega conhecida como Septuaginta, possui um ótimo conhecimento das condições políticas e sociais vigentes em meados do século I e tem o apóstolo Paulo em alta estima”.[2] É digno de nota que o autor passa a empregar o pronome “nós” a partir do capítulo 16.10.
3. Data e Ocasião: Qual a data em que Atos foi escrito nós posicionamos o livro na data de entre os anos 60 e 68, não pode ser uma data que passe do ano 70, pois, Lucas registraria a queda e a destruição de Jerusalém. Carson nos diz que a conclusão de Atos, “como argumentamos, indica que o livro foi escrito em c.62 d.c” [3]
4. O propósito do Livro: Qual a finalidade de Lucas escrever tal livro? “Parece que o autor tinha em mira a multidão crescente de novos cristãos e interessados que tivesse a mesma necessidade de Teófilo, de conhecerem os fatos autênticos da nova fé”.[4] Marshall sugere que Téofilo, ainda que fosse alvo deste escrito, não era uma pessoa definida sugerindo que Lucas “estivesse suprindo os cristãos de seu tempo, representados por Teófilo, com uma narrativa das origens cristãs, a fim de confirmar a autenticidade do evangelho que estava sendo pregado e ensinado.” [5]
Exposição:
Vs.1-5. Aqui nós temos a apresentação do prólogo do livro somos introduzidos aos conceitos fundamentais do livro. Somos informados que este livro trata-se de um segundo volume de uma obra anterior – neste caso o evangelho de Lucas – Também temos aqui o nome do personagem a quem este livro é destinado “Teófilo” (amado por Deus).
a. Apresentando que este registro deve-se ao fato da realidade da ressurreição de Cristo apresentada com incontestáveis provas.
b. As provas encontram-se registradas no primeiro livro (Evang. Lucas) no capítulo 24.36-43.
I – A MISSÃO DA IGREJA. (v.6-8)
Este texto tem algumas lições pertinentes para a Igreja de Cristo. Os discípulos haviam identificado a promessa do consolador sobre a Igreja como sendo a restauração do reino. A temática do Reino de Deus transparece na mente dos discípulos, todavia, Cristo centraliza-se em outro aspecto mais significante. Eles estavam preocupados com uma chegada do Reino de Deus, e ainda, não haviam dado conta de que estavam diante daquele que acabara de trazerrr o Reino ao mundo.
Os apóstolos pensavam “num reino terreno e judaico justamente como fazem os pré-milenistas, que tem em suas mentes um reino terreno e judaico, no segundo advento de Cristo” [6]. Cristo lhes responde dizendo “não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade;” no grego temos dois termos para descrever tais períodos (tempos e épocas); os vocábulos conforme o grego são Kronos e kairos. O primeiro termo indica largo período de tempo; enquanto que o segundo indica um curto tempo – ou um transcorrer rápido de tempo.
Cristo diz que não era da competência deles especularem quando haveria de se estabelecer o reino de forma plena, isto porque o Reino estava na proclamação Kerygmática (pregação) de Cristo e na promessa da chegada do Espírito Santo. Este é o ponto que temos diante de nós. Pois, não é o esforço humano que vai trazer a plena manifestação do Reino – mas o próprio poder de Deus! – aqui fica claro pelas palavras de Cristo. Então, Cristo volta-se e diz: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.” (vs.8).
Como começa o versículo 8? Ele começa colocando-nos uma oposição, ou melhor, um contraste com aquilo que estava sendo dito pelos discípulos, ele diz: “mas” esta palavra é uma conjunção adversativa; e no texto grego “alla.” é uma palavra usada para expressar algo com intensidade, enfatizar, chamar a atenção. Cristo está dizendo que eles deveriam deixar de pensar escatologicamente concernente a um reino futuro e visível. A função da Igreja é proclamar a mensagem do Reino e não especular quando o reino será plenamente manifestado.
O nosso texto diz: “Recebereis” este verbo no texto grego é “lêmpsesthe” ele é um verbo defectivo, pois, está na voz média depoente, ou seja, é um verbo que tem a forma passiva, todavia, o sentido é ativo; o modo é indicativo e o tempo é futuro. O modo indicativo aponta para a certeza do recebimento. Eles de fato são assegurados disso, e o futuro indica que não é uma mera conjectura, mas expressa que isso de fato ocorrerá.
A questão diz respeito o conteúdo deste recebimento que é o “Poder”. A palavra que encontramos aqui é um substantivo no caso acusativo feminino singular, este termo no grego “dynamin” possui uma série de significados tais como ‘força’, ‘habilidade’, capacitação’. Como entender o termo aqui neste texto? Pensamos que a palavra deve ser compreendida no sentido de “habilitação’ ou ‘capacitação’. É um poder que capacita ou que habilita. Mas, quando vem tal poder capacitador? Em que momento a Igreja experimentaria tal poder? O texto nos diz que é quando “descer sobre” aqui Lucas usa um particípio grego “épelthontos”.
Sabemos que o particípio refere-se a uma ação passada com resultados duradouros; no caso em apreço nós temos um verbo no particípio aoristo que indica uma ação passada de forma completa e única – não repetida – ou seja, Lucas diz que a Igreja receberia tal poder depois de algo “descer sobre ela”, uma melhor tradução que expressaria adequadamente o sentido deste particípio seria “tendo descido sobre”. (derramado)
A questão é: o que seria “derramado” ou que “viria sobre” a Igreja? A resposta vem posteriormente, diz o texto “tendo descido o Santo Espírito”. Note que não é o poder que é derramado, mas o Espírito que gera o poder é que é derramado. Notemos que este Espírito é adjetivado como sendo santo. O atributo de santidade do Espírito não é negligenciado pelo Texto, refere-se que este poder que a Igreja receberia não seria corrompido, mas santo, pois, sua fonte é o Espírito Santo de Deus.
A Igreja não é santa em si mesma. Ela é santa porque é a habitação do Espírito Santo, outro aspecto teológico disso é que o Espírito Santo vem graciosamente habitar na Igreja. Ele é derramado sobre a Igreja conferindo a ele um poder sem igual neste mundo, um poder que somente ela tem e nenhuma outra instituição pode ter tal poder que é conferido à Igreja, nenhum Simão pode comprar tal doação divina!
Mas, sobre que vem o Espírito Santo? Sobre todos os homens? Não. O Espírito vem sobre o povo do pacto – este povo chamado Igreja – sobre ninguém mais, pois, o lugar de habitação do Espírito Santo. O Espírito seria derramado abundantemente sobre a Igreja neotestamentária “eph hymas”- sobre vós – Cristo particulariza a habitação do Espírito, assim como a redenção é particular, os efeitos e a aplicação da mesma redenção devem ser particulares. O mundo não pode receber o Espírito Santo, pois não vive no momento escatológico da ressurreição e ascensão de Cristo aos céus, e nem muito menos tem a esperança, esta outorgada pelo Espírito, da volta de Cristo[7]. O Espírito deve habitar naqueles que são alvos da morte redentora de Cristo. Isto significa que a habitação do Espírito é para os eleitos de Deus.
Com qual finalidade o Espírito seria derramado na vida da Igreja? Qual é a conseqüência disso na vida da Igreja? A conseqüência é que a Igreja seria transformada em proclamadora de Cristo ao mundo. O Espírito Santo habita na Igreja para fazê-la uma testemunha da obra de Cristo aos homens.
Cristo diz: “sereis minhas testemunhas” o autor do livro usa o verbo “esesthé,” que é um indicativo futuro na Segunda pessoa do plural. Chama-nos atenção o modo como este verbo está sendo o usado – ele está no indicativo – o modo indicativo aponta para um fato concreto, ou seja, de fato vocês serão minhas “testemunhas”. O uso do pronome possessivo aqui “minhas” - mou– indica-nos que Cristo continua sendo o Senhor da Igreja e que exige delas (das testemunhas) o não silenciar-se diante do mundo. O senhorio de Cristo é manifestado mesmo quando somos vocacionados a proclamar o evangelho, pois, sempre estaremos proclamando a Palavra de Cristo e não a nossa. A Igreja foi transformada e capacitada a ser “testemunha” o termo grego aqui “martyres” significa mais que pregar o evangelho com a voz, pois, o termo é usado para aquele que é martirizado por causa do evangelho. Ou seja, na vida e na morte a Igreja deve testemunhar de Cristo ao longo dos tempos. Cristo deve ser visto na pregação e na vida da Igreja – esta foi a capacitação que a Igreja recebeu do Espírito Santo.
Cristo não apenas nos promete a capacitação adequada, que é manifestada pelo Espírito Santo, mas também ele nos indica o caminho por onde a Igreja deve trilhar, por onde a Igreja deve agir. Ele diz: “em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.”
A missão deles era “informar todas as pessoas, em todos os lugares do mundo, a respeito de tudo quanto tinham visto, ouvido e tocado” [8]. Três proposições báscias são aprendidas aqui na vida da Igreja quando ela é habitada pelo Espírito Santo:
1. Sem o Espírito não há poder.
2. Sem poder não há testemunho eficaz
3. Sem testemunho não há avanço do evangelho.
II - A ASCENSÃO DE JESUS. ( VS.9-11).
Este texto é muito importante para a vida da Igreja cristão. Isto porque ele apresenta duas verdades singulares: 1 – a realidade da ascensão de Jesus. 2 – lança luz sobre a segunda vinda de Cristo.
No primeiro caso tencionamos afirmar que não se tratou de uma visão espiritual nem de uma ilusão. Esta elevação de Cristo aos céus ela foi visível e corpórea.
E no segundo caso, aprendemos esta valta será também do mesmo modo.
III – ESPERANDO EM JERUSALÉM (vs. 12-14).
Jerusalém ficava perto do Monte das Oliveiras. Lucas refere-se à distância com expressão “caminho de um sábado”. Essa distância era a que os regulamentos dos escribas permitaim a um judeu viajar num dia de sábado, ou seja, de 2.000 côvados, pois, “a viagem que poderia fazer num sábado era algo menor que um quilômetro”[9]. Os apóstolos estavam reunidos em um cenáculo, este local era uma sala grande de jantar, no segundo andar que tinha capacidade para mais de 100 pessoas.
Somos informados que havia muitas pessoas com os apóstolos formando uma congregação de cerca de 120 pessoas (Atos 1.15). Lucas apresenta algumas pessoas importantes incluindo a mãe do nosso redentor.
IV – ESCOLHENDO UM SUBSTITUTO PARA O MINISTÉRIO APOSTÓLICO. (vs.15-26).
Judas havia se suicidado e agora deveria haver algum para tomar parte no lugar que fora dele. O assunto foi apresentado por Pedro que citou o trecho do Salmo 69.25 associado com o Salmo 109.8. A escolha foi realizada pelo lançamento de sortes, então, Matias foi eleito para ser o novo apóstolo da Igreja, seguindo as credenciais apresentada pela Igreja. Duas verdades são claras aqui
1. A Igreja deve tomar decisões quando julgar necessário.
2. Estas decisões deve ser norteadas pela Palavra de Deus.


* O autor destes estudos é membro da Igreja Presbiteriana do Brasil. Candidato ao Sagrado Ministério pelo Presbitério do Recife. Está graduando-se em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte, trabalha como Seminarista na Congregação Presbiteriana em Prazeres – Jaboatão dos Guararapes – PE.
[1] LIMA, Delcyr de Souza. Atos I – Capítulos 1-14. Rio de Janeiro: JUERP, 1994. (Série A Bíblia Livro por Livro), p.5.
[2] CARSON,D.A. Introdução ao Novo Testamento. Tradutor: Márcio Loureiro Redondo. São Paulo: Vida Nova, 1997, p.208.
[3] Ibid, p.218.
[4] CRABTREE, A.R. Introdução ao Novo Testamento, Rio de Janeiro: JUERP, 1987, p.154.
[5] MARSHAL, I. Howard. Teologia do Novo Testamento – Diversos Testemunhos, um só Evangelho. Tradutoras: Marisa K.A. de Siqueira Lopes, Sueli da Silva Saraiva. São Paulo: Vida Nova, 2007, p.139.
[6] CARROLL, A.H. Los Atos, El Paso: Casa Batista de Publicações, 1989, p. 27.
[7] Estou pensando como teólogo bíblico, mas não estou negando que haja alguma operação do Espírito na vida daqueles que não são crentes, pois, sabemos que a doutrina da Graça comum diz respeito a essa operação do Espírito na vida dos não eleitos.
[8] LIMA, Delcyr de Souza. Atos I – Capítulos 1-14. Rio de Janeiro: JUERP, 1994. (Série A Bíblia Livro por Livro), p.6.

[9] BARCLAY, William. Atos dos Apóstolos. Argentina: Ediciones La Aurora, p. 21.